BARRA DO RIACHO 10 mil MORADORES VIVENDO EM SITUAÇÃO PRECÁRIA

Aracruz: progresso é vizinho do problema

09/05/2010 - 00h00 (Outros - A Gazeta)

Abdo Filho 
afilho@redegazeta.com.br


Uma vila no caminho de vários portos 
Os moradores de Barra do Riacho estão indignados com a construção do Terminal Multimodal Capixaba. “Só ficamos sabendo quando a obra começou”, reclama Herval Nogueira Júnior. Segundo ele, a área do terminal serviria para a expansão da comunidade. “Agora estamos imprensados entre Portocel, Fibria e Nutripetro”. Em entrevista ao Bom Dia Espírito Santo do dia 26 de abril, o diretor da Nutripetro, José Roberto Barbosa disse que estava em contato com a comunidade e que o empreendimento não iria criar nenhum passivo social e ambiental.

Dinheiro caminha com a desilusão 
Encravada entre vários portos, a Fibria e diversas obras de vulto, a sede da vila de Barra do Riacho é um exemplo de que grandes projetos, mesmo com muito dinheiro circulando, não levam, necessariamente, benefícios para quem está na vizinhança. Pobreza, insegurança, educação e estrutura urbana precária fazem parte do cotidiano de uma população já desiludida.

Apesar de ficar a menos de um quilômetro das obras do Terminal Multimodal Capixaba, empreendimento de R$ 850 milhões da Nutripetro, a escola estadual Caboclo Bernardo, com 930 alunos, única a oferecer do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e o ensino médio para a região de Barra do Riacho, está literalmente caindo ao pedaços. O telhado precisa ser todo trocado, as infiltrações estão por toda a parte, a quadra de esportes é improvisada e o único auditório está condenado.

Paulo Sérgio Neri, diretor da escola, diz que os adolescentes e jovens da região estão largados. “As condições são precárias, estamos esquecidos. O que mais me intriga é que escola fica numa das regiões que mais geram receita para município e Estado. A escola de Coqueiral de Aracruz, onde também fui diretor, é muito melhor organizada”, compara.

Mas os problemas não param por aí. Moradores e o próprio diretor afirmam que o tráfico e o consumo de drogas estão no dia a dia da população e rondam a escola. “Dentro do colégio nunca flagramos nada, mas no entorno é complicado. Não há segurança”, relata Neri.

Herval Nogueira Júnior, morador da vila de Barra do Riacho há mais de 25 anos, diz que o lugar não sabe o que é evoluir. “Os empreendimentos estão aqui do nosso lado, mas não vemos nada melhorar, pelo contrário. As grandes obras trazem tudo quanto é tipo de gente para cá. Boa parte da nossa população é flutuante. Muitos desses que só estão aqui de passagem trouxeram vários problemas. O consumo de drogas é grande, as mulheres não podem ficar sozinhas na rua depois das 20 horas porque correm o risco de serem estupradas, nossa escola está caindo aos pedaços, o transporte é ruim e a saúde é precária. Estamos definitivamente largados e sem saber o que fazer”.

O prefeito Ademar Devens reconhece que a região tem recebido poucos investimentos. “Vamos olhar para a região com mais carinho. A situação vai melhorar por lá”.