quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Vereadores de Aracruz usam até espiritismo para barrar investigação

Método era usado por vereadores e servidores públicos para identificar vazamento de denúncias de irregularidades na Câmara
20/12/2011 - 21h21 - Atualizado em 20/12/2011 - 21h21
A Gazeta

Letícia Cardoso
lcardoso@redegazeta.com.br
O esquema criminoso denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPES) no município de Aracruz vai muito além das práticas mais comuns envolvendo a apropriação ilícita de recursos públicos. Depoimentos de testemunhas revelam que a quadrilha de vereadores e de servidores públicos contratou "uma pessoa espírita para avaliar as energias do depoente e verificar se ele havia cooperado com as autoridades e delatado os esquemas que circundam a Câmara Municipal", salienta um trecho da denúncia.
O espírita teria sido contratado pelos vereadores Orvanir Bosquetti (PMDB), Ozair Coutinho Gonçalves Auer (PMDB) e Gil Furieri (PMDB); e também pelo marido da vereadora Ozair, o ex-vereador Ismael Daros Auer, para "avaliar" a testemunha, logo após ela ter sido saído da cadeia.
De acordo com depoimentos ao MPES, eles "atuam em bloco e são capazes de matar quem atravessar o caminho deles".
As ameaças também se tornaram uma peça de intimidação adotada pela quadrilha. Uma outra testemunha contou que, ao chegar no sítio de Gil Furieri, no distrito de Guaraná, foi obrigado a levantar a perna da calça para ser revistado, por imposição dos que estavam presentes. Além dos quatro, o vereador Jocimar Rodrigues Borges (PSB) participava do encontro. Ele também está preso.
   foto: Carlos Alberto Silva
ES - Aracruz - Câmara de Vereadores do Município de Aracruz - Editoria: Política - Foto: Carlos Alberto Silva
As prisões
Gil Furieri
Na última quinta-feira o vereador Gil Furieri foi preso acusado de participação em um suposto esquema de fraude em licitação que beneficiaria a empresa Speed-TI, de propriedade de sua filha e Márcio Devens.

Prisões
Na última segunda, mais três vereadores foram presos: Jocimar Rodrigues Borges, o Manego (PSB), Ozair Coutinho (PMDB) e Orvanir Pedro Boschetti (PMDB). Também seguiram para o presídio o secretário Ismael Rós Auer e o advogado Guilherme Loureiro.
Afastamento
Na mesma ação, foram afastados os vereadores Ronis do Devens (PDT), Paulinho da Vila (PT) - que já estavam fora do cargo e tomariam posse - e Luciano Frigini (PSD).
Acusação
São acusados de formação de quadrilha, prática de "rachid" e de manter "servidores fantasma".
Perigo
Na reunião, a testemunha foi advertida sobre os perigos de delatar uma prática de corrupção na Câmara, chegando a ser ameaçado de morte caso alguém fosse entregue por ele à polícia.
Ele contou que por duas vezes foi seguido por um carro suspeito, e motocicletas rondaram a casa onde mora. A ameaça de morte aconteceu no gabinete de Gil Furieri, quando também se fazia presente o vereador Orvanir Bosquetti. Os dois teriam dito a ele que se algum dia fossem delatados, o matariam.
Gil Furieri, segundo aponta a denúncia, é um dos mentores do esquema criminoso que incluía a prática de "rachid" (apropriação de parte do salário do funcionário), contratação de funcionário fantasma e fraude em licitação na Câmara. O parlamentar foi detido na última quinta-feira. Foram presos ainda no mesmo dia a filha dele Cíntia Teixeira Furieri, o sócio dela, Márcio Devens Barcelos, e a presidente da Comissão de Licitação da Câmara, Renata Aquilino Tavares.
De acordo com as investigações, eles estariam envolvidos em um suposto esquema de fraude em licitação que beneficiaria a empresa Speed-TI, de propriedade de Cíntia e do empresário Márcio Devens.
Os vereadores Orvanir Bosquetti, Gil Furieri e Jocimar Rodrigues Borges (PSB) e o então secretário de Infraestrutura, Ismael da Ros Auer, exonerado ontem, estão presos no Centro de Detenção Provisória de Aracruz. Já a vereadora Ozair foi levada para o CDP feminino de Colatina. (Com colaboração de Mariana Montenegro)
Delegado não descarta novas prisões
Os três vereadores presos na sessão da última segunda-feira, o advogado e o secretário municipal de Infraestrutura Urbana começam a prestar depoimento ontem. O delegado Leandro Barbosa Morais não descarta novas prisões, já que as investigações ainda não foram concluídas.
"As investigações são de um rol intenso e extenso de fatos. Não está descartado que possam ocorrer novas prisões. Com as oitivas que vamos estar procedendo nos próximos dias, esperamos que possam ser esclarecidos vários fatos e que possam ser restabelecidas a normalidade, a moralidade e a legalidade na Câmara", afirmou.
Com as prisões e os afastamentos ocorridos, somente quatro vereadores continuam na Casa. São eles: Coronel Samuel Nascimento (PSB), o presidente do Legislativo, Ronaldo Cuzzuol (PMDB), Anderson Guidetti (PTB) e George Coutinho (PDT). O vereador Coronel Samuel é suplente do vereador Gil Furieri, que foi preso  por suposta fraude em licitação.
Segundo o presidente da Câmara, Ronaldo Cuzzuol, uma sessão extraordinária será realizada hoje ou amanhã para que os suplentes tomem posse. Cuzzuol disse que a Câmara está ferida, mas precisa "erguer a cabeça e tocar o barco". (Samanta Nogueira)
http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/12/noticias/a_gazeta/politica/1065578-prisoes-em-aracruz-ate-espiritismo-para-barrar-investigacao.html

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