quinta-feira, 2 de junho de 2011

Desalojados por Prefeitura de Aracruz continuam abrigados em quadra


Protegidos apenas por lonas, as 125 famílias, às vezes têm que racionar água potável, eles reclamam da morosidade em realocá-los
01/06/2011 - 15h03 - Atualizado em 01/06/2011 - 15h03
EDUARDO FACHETTI - GAZETA ONLINE
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Passados 13 dias desde a ação do Batalhão de Missões Especiais (BME) para desocupação de uma área no distrito de Barra do Riacho, em Aracruz, 125 famílias ainda estão vivendo em uma quadra poliesportiva do município. Protegidos apenas por lonas, e às vezes tendo que racionar água potável, eles reclamam da morosidade da prefeitura em realocá-los em moradias decentes.

No dia 18 de maio, a Prefeitura de Aracruz efetuou a desapropriação do terreno onde viviam mais de 1,6 mil pessoas. Casas foram demolidas e, de acordo com os moradores, pertences foram roubados durante a desocupação dos imóveis. Agora, alguns deles tentam recomeçar a vida, mas enfrentam obstáculos, como diz a doméstica Inácia Ramos Simões, de 50 anos.

"A gente tem que aceitar aquilo que as pessoas da prefeitura querem. Não adianta ficar nervoso, porque é pior e eles nem atendem a gente. Só nos resta esperar a hora e o modo com que eles querem fazer as coisas. Ficamos até com receio de pedir uma água, um café quando a gente quer", destacou a moradora, que está vivendo na quadra poliesportiva com o marido e uma filha adolescente.
A dificuldade em se adaptar à falta de privacidade é relatada pelo morador Everaldo dos Santos Lisboa. Além de estar dividindo espaço com gente que ele nunca viu, existe um agravante: explicar ao filho, de apenas quatro anos, por que eles não estão mais na casa que moravam.

"No lugar em que estou, mesmo sendo numa barraca, é desconfortável. Principalmente para meu filho que é pequeno. As crianças passam frio à noite, não quero isso para meu filho. As dificuldades que passei, não quero para ele. Não dá pra levar a vida desse jeito", reclamou Everaldo.

Água é racionada

A secretária desempregada Joice Lopes Miranda, de 42 anos, traz um dado alarmante. Todos os dias, a prefeitura entrega, na moradia provisória, 150 marmitas e garrafas d'água, tanto na hora do almoço, quanto no jantar. Às vezes, falta água potável e o jeito é racionar o consumo.

"A gente dá uma garrafa d'água para cada pessoa e depois não tem mais. As pessoas pedem mais, e não tem. Alguns moradores até acham ruim, mas a culpa não é nossa. Se tivesse, a gente daria, porque quando chega material, a gente entrega sem dó, porque é para todo mundo", destacou Joice, que também teve a casa demolida em Nova Esperança após a ação do BME.

Por causa do vento forte, parte da lona que cerca a quadra poliesportiva rasgou. Os moradores, que já reclamavam do frio à noite, agora dizem estar preocupados também com a saúde das 69 crianças e adolescentes que vivem lá. Na última terça-feira (31), a prefeitura entregou colchões aos abrigados e a expectativa é de que até a próxima sexta (03), sejam entregues cobertores.
Mas, em relação à lona rasgada, o secretário de Habitação de Aracruz, Davi Gomes, disse que cabe aos moradores se protegerem da friagem. "A gente forneceu a lona, mas  tem muito homem lá. Demos a lona e eles colocaram no lugar. Se soltou, é só eles subirem e colocarem. Se rasgou, fazer o quê? Colocamos a lona como paliativo, para ficar ali cinco ou seis dias. Só que essa coisa está durando".

De acordo com o secretário, a prefeitura ofereceu R$ 300,00 para cada família como auxílio-moradia, mas não houve acordo. Os moradores apresentaram a contraproposta de a administração ceder terrenos para a construção de casas populares. Em contrapartida, caberia aos próprios moradores a mão-de-obra na empreitada. O assunto ainda está sob análise.

Nova ação

Nas próximas semanas, a Prefeitura de Aracruz pretende retomar a propriedade de uma outra área ocupada irregularmente, desta vez na localidade de Vila do Riacho.

"Hoje, nesse local, há 28 famílias vivendo e 120 casas sendo levantadas. Já notificamos eles para desocupar os imóveis e fizemos um acordo. A prefeitura vai construir 100 casas na Vila do Riacho, 400 na Barra do Riacho, 200 na sede do município e outras 45 em Santa Cruz", afirmou Gomes.

A Secretaria de Habitação de Aracruz informou que a prioridade das moradias populares projetadas será das pessoas em situação de desabrigo, desde que sejam famílias constituídas que morem no município há, pelo menos, cinco anos. Outro critério que deve ser usado é a renda máxima de três salários mínimos por grupo familiar. No entanto, não foi dado prazo para a remoção daqueles que estão vivendo na quadra poliesportiva de
 Barra do Riacho.

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